Lenitivo
Tudo é permitido aos amantes:
viver o hoje sem pensar no antes
agarrar-se aos sonhos sem haver depois
contar estrelas pela noite, a dois
e dos seus olhos brotar melodias
no momento da entrega que os sacia
O tempo dos amantes não se conta
pelos relógios apressados, barulhentos
conta-se pelo número de abraços sedentos
e de amassos no aconchego de seu ninho
enumeram-se também os carinhos
trocados na cama, ou no espaço dos beijos
são tantos os anseios, infindáveis desejos
que chegam a ecoar pela noite enluarada
amores tão unidos, seguindo a mesma estrada
Felizes são aqueles que, amantes confessos
dão-se por inteiro aos ritos do amor
aplacam com coragem do coração, a dor
amparam suas mágoas, e secam suas lágrimas
na reciprocidade sacra de seus corpos
e acham lenitivo para qualquer sofrimento
nos braços um do outro, na entrega do momento...