MOMENTOS (Florescência) Desenlace
DESENLACE
Fila Sabino
O que tanto murmuras ao vento?
Neste sopro em arremedo
Ele não te ouvirá os lamentos!
Incomoda-te algum segredo?
Teu olhar está deserto
E teu semblante repousa além!
Estás tão perto e me tens ausente!
Vejo-te em mímicas, gestos ignotos
Resmungos inelegíveis
Em monólogos inconsequentes!
Alheia vives, faz tempo!
Divagas!
Intranquiliza-te e a mim este perrengue!...
Queixume...
A que mesmo comparaste teu coração?
Ao vinho? Ao sino?
Não absorvi! Não me toquei!
Desassimilei.
__ É que vivo em desalinho.
Meu peito fadiga.
Meu coração é menino triste, desejando brinquedo que não é teu!
Ou não existe.
Estou em desmanche...
Em desastre!
Meu coração é descontente. Acuado.
Intransigente, não se permite resignar.
Castro, obstina-se.
Superior, insurge.__
Que absurdo!
O que dizes?...
Que desatino, o teu!
Que destino, o meu!
Desde que usaste a deslumbrante grinalda
Sobre o alvejado véu
E ouviste de mim que sim
Tens a mim completamente e dádivo!
O que te aflige e angustia?
O olvido?
Que disparate!
E este anel no dedo,
Não te basta ao coração ávido?
__ Não. Não me basta!
É pouco, nulo, nada.
Eu quero teu coração invólucro. Cativo.
Meu! Tão somente meu! Reles.
Escravo. Subjugado.
Submisso a mim e só a mim fiel
Para que dele, eternamente, eu zele!
Até o fim!
Até o fel!
Até consumi-lo.
Até vomitá-lo.__
Quanta insensatez!
Que ingratidão!
Se nunca, nesse tempo todo, sentiste que o tens
percebeste que o tens
acreditaste que o tens
deste conta que o tens
E tortura-te, ainda, a incerteza
É porque, nesse tempo todo, com certeza,
O teu coração é que nunca foi meu, então.
Em que ilusão vivi!?...
É o fim!
A treva!
Como foste cruel! Ainda agora eu era teu!... em vão!?
Nunca em ti feriu a sorte sem sangrar igual em mim!
Amei-te... como amei-te!
Dei-te, por critério, o que quiseste
Por segredo, o que não viste
Por amor o que existe
Mas, por graça, o que pediste
E sempre de mim tiveste... e não creste
Obter-te há por Ele, então!
Que loucura!
Tiraste-me o tempo!
Roubaste-me o fôlego!
Sucumbiste-me!...
Alija-te de culpa, remindo-me de ti!
Abjugo-me, pois.
Ainda hoje partirei! Quem sabe amar-me há em morte!?...
Em êxule!
Que a ti, pois, a sorte dê consorte
E, eternamente, dele zeles
Até que o tempo te revele
Que, de ti, escravizara o coração
Crido que, a ele, tu amas e, a ti, ele não!!!
Adeus.