POEMA DE AMOR A SI MESMO
Deixei de me desprezar:
tenho a ferocidade dos vivos
e a força dos guerreiros.
Posso me reerguer,
apesar dos tiros e dos ataques,
apesar da fome e da doença.
Que eu não tenha quem me ame
já não é tão essencial assim!
Tenho uma vida e respiro
o ar de minha liberdade.
Posso escolher quem
comigo há de deitar,
a quem darei o meu melhor,
o calor de meu ventre,
os meus ouvidos.
E se, de surpresa,
for arrebatada pela paixão,
irei sem medo
de naufrágio
ou de fraqueza.
Irei com tudo: amadurescida
que estou
pelos deslizes do existir.
Irei sem medo de errar,
de me expor,
de gritar na hora do gozo,
de me assumir vadia
quando o outro quiser
ter uma santa ao lado.
Não estou a fim de ser agradável,
nem palatável,
nem aceitável.
Estarei sem máscaras:
meu rosto,
as marcas dos meus embates.