COISAS DO PASSADO
Do silêncio das madrugadas em companhia
de minhas inquietações, das noites mal
dormidas, das avassaladoras saudades
como da angustia de sobreviver na
penumbra são coisas do passado...
Das diferenças recebidas, do medo de
viver sozinho, da amargura de pensar
que poderia naufragar nas águas
turbulentas da vida é coisa que
dormem no berço do consumado...
Das reminiscências de nossos segredos,
como aqueles longos momentos que
desnudos passávamos em nossa banheira,
escoaram-se todos como água que
some pelo ralo...
Agora os tempos são outros, os meus
olhos como a minha razão espairecem
satisfeitos pelos céus, pelos mares, quem
sabe até na esperança de recuperar
o meu perdido horizonte...
Já não existem aqueles pedidos com
instância da carne, do orgulho,
pedidos aflitos para que salvassem
um flagelado das fileiras dos acabados...
Onde vivemos, onde fui alvo de
lancinantes crueldades,
caminham apenas os espectros
vigiando o que não mais existe...