Antigène
Antes era o nada, apenas pó,
centelhas de um firmamento que não sei,
onde criei ou se criado, criou o tudo,
que hoje existe entre o ser ou não ser.
Antes de tudo, apresento-me: Sou!
A quem perguntar por mais, um riso só,
absinto esvaindo-se entre os dedos mouros
de um figurante qualquer que a vida aplaudiu,
que em lágrimas desfez-se sem piedade ou dó.
Antes que me critiquem, aceno no branco da paz,
que se percam as lembranças, os adeuses,
os fins que nunca justificaram meus meios
e assim, impudico, calo sua voz!
Antes que julguem os campos por onde meus passos
fincaram sementes germinando a esperança
nos olhos da vida que leio.
Antes que me acusem, descanso meus sonhos,
mares de ilusões, ondas tocando as velas
que acesas, refletem a fé que norteia essa nau.
Fogem da tempestade os que entre o bem e o mal
procuram abrigar-se no egoísmo da própria sombra,
restos humanos, degenerativos dons aspirando sorte.
Cospem lavas de fogo sobre os montes
onde esperam amanheceres de um sol que não virá,
atraem raios sobre a terra que exausta se levanta
e como última tentativa clama a algum deus
para que lhe responda na voz rouca de trovões.
Antes do dia, a noite...
Faz-se então silêncio e no semblante abatido,
apenas a imagem desbotada de um sonhador...
... E que descanse a vida, descanse o sonho,
o amor, novo sentido ao que antes
no nada deveria ter sido o tudo que sonhei.
E hoje estendo minhas mãos olhando para um céu
tentando encontrar vestígios do que fui
no tempo onde em plena vida amei.
26/03/2007