Abelhas

ABELHAS

Veja, as estrelas do céu

Vieram atrás do pote de mel

Mas onde estão as abelhas?

Os pássaros nas telhas

Núvem do céu

Cair do muro

Veja o mundo

Tudo, todo nulo

Cadê as flores

Poléns, pobres

Água escura, chuva escura

Gotas de Sangue

Veja, cadê o mundo?

Terra azul

Terra branca

Tudo vermelho

Vermelho mundo

Vermelho em tudo

Pote de mel

Caim e Abel

Rios violentos

Cheio de dores

Onde estão as cores?

Cheio de coros

Sapos alagados

E peixes afogados

Espíritos do mau

Que bem faz o bem

Que mal faz o mal

O bom, o bem

Na torre, no alto

O sino

Deim, Deim

Aonde vai meu bem?

Procuro e não acho

Onde está?

Pára. Não quero

Quero te ver

Ainda vou te ter

No bem, o pote

Pote de mel, sem abelhas

Sem flores

Sem dores

Só céu

Quero ficar

Quero ficar sozinho neste mundo

Vou pular

Vou pular do muro

Quero ver

Quero ver o tudo

Ônibus, carros e fumaça.

Óleo diesel

Gasolina, álcool

Olhos

Sangue, mangue.

Caranguejos, e muitos beijos;

Sol, sóis, só você.

Para quê?

Por você?

Adeus o passado

Chega, estou cansado.

Já fui caçado

Tudo esgotado

Parado!

Diga tudo o que tem de ser dito

Diga tudo o que se possa ouvir

Grite o que viu

Sinta;

Antes de não poder sentir

Corra, pula, dança

Crianças

Lembranças de sol

Lua cinza, terra azul e pote de mel

Estrela veio tarde

Não existe mais mel

Volte, vá ao céu

Estamos em perigo

Sem amigos

Sem nada

Palavras escritas

E nada dito

Sons e abelhas

Abelhas do mal

Suga tudo

Tudo e mais nada

Nem uma gota

De mel.

Diogo Garcia

1999