A PAIXÃO É MORTAL
Está tudo acabado entre nós
O nó se desfez
Soltamos as mãos
Não andamos mais coladinhos
O sol já passou das seis...
Às vezes me pergunto se escolhi a pessoa certa
Mas as vezes não sabemos do destino
Até porque as horas são incertas
Não há mais certeza no olhar
Agora tudo é talvez
As portas dos olhos estão abertas
O relógio matou a paciência do cuco
Atrasamos os dias como dois seres eunucos
Não somamos mais mimos
Dividimo-nos sozinhos
No íntimo estamos sós
Em casa somos vizinhos
Perdidos vagaram nos pós nossos “eus”
Tanto eu que me doeu em ti ficou
E tanto teu que em mim ficou me desertou
Já nem sei quem sou
Quando me olhava no espelho
Minha beleza era pra tu
Qual carniça morta no mercado
Era vaidade de sobra pra um esfomeado urubú...
Éramos tão juntos como estrela e madrugada
Hoje caminhamos sozinhos e vazios por outras estradas
A vida tem dessas coisas
Às vezes é noite nublada na outra é noite enluarada
É asfalto lisinho noutra é rua esburacada
Todo dia é dia de tudo e mais um pouquinho
Noutro é dia de nada e nem mais um tiquinho
Vida bandida um dia nos prende
É vida condenada
Noutro dia nos solta
E a liberdade já não serve pra nada
O coração é assim como os olhos
Tem suas saídas e suas entradas
Passamos por nós nestas andanças
Como paralelepípedos nas ruas
Só restaram as pegadas gastas na sola da infância
Impregnadas nas esparsas lembranças
Como aquela musica que toca nossa alma
Chocalho em berço de criança feliz
Qual fragrância apaixonada e nariz
E convida nosso pensamento a bailar juntinho nesta contra dança
Uma viagem marcada pela estrada esburacada da cicatriz.