A PAIXÃO É MORTAL

Está tudo acabado entre nós

O nó se desfez

Soltamos as mãos

Não andamos mais coladinhos

O sol já passou das seis...

Às vezes me pergunto se escolhi a pessoa certa

Mas as vezes não sabemos do destino

Até porque as horas são incertas

Não há mais certeza no olhar

Agora tudo é talvez

As portas dos olhos estão abertas

O relógio matou a paciência do cuco

Atrasamos os dias como dois seres eunucos

Não somamos mais mimos

Dividimo-nos sozinhos

No íntimo estamos sós

Em casa somos vizinhos

Perdidos vagaram nos pós nossos “eus”

Tanto eu que me doeu em ti ficou

E tanto teu que em mim ficou me desertou

Já nem sei quem sou

Quando me olhava no espelho

Minha beleza era pra tu

Qual carniça morta no mercado

Era vaidade de sobra pra um esfomeado urubú...

Éramos tão juntos como estrela e madrugada

Hoje caminhamos sozinhos e vazios por outras estradas

A vida tem dessas coisas

Às vezes é noite nublada na outra é noite enluarada

É asfalto lisinho noutra é rua esburacada

Todo dia é dia de tudo e mais um pouquinho

Noutro é dia de nada e nem mais um tiquinho

Vida bandida um dia nos prende

É vida condenada

Noutro dia nos solta

E a liberdade já não serve pra nada

O coração é assim como os olhos

Tem suas saídas e suas entradas

Passamos por nós nestas andanças

Como paralelepípedos nas ruas

Só restaram as pegadas gastas na sola da infância

Impregnadas nas esparsas lembranças

Como aquela musica que toca nossa alma

Chocalho em berço de criança feliz

Qual fragrância apaixonada e nariz

E convida nosso pensamento a bailar juntinho nesta contra dança

Uma viagem marcada pela estrada esburacada da cicatriz.

Jasper Carvalho
Enviado por Jasper Carvalho em 01/07/2014
Código do texto: T4865135
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