Meu amor, preste atenção
Meu amor, eu sei que sempre que eu começo com meu amor, tu já sente, assim, do nada, uma espécie de pavor; e pensa, logo, ai meu deus, vai com calma, por favor; mas sou eu que te digo, seja lá, como for, presta um pouco de atenção, sente o cheiro, e o sabor; não, eu não tenho sido muito coerente, eu sei; e outro dia quando tu falou sobre os planos pro futuro; eu te disse que eu não sei, que eu mal vivo, e que eu não duro; te disse que eu não sou uma dessas coisas que chega e fica pela terra; eu sou quem erra, quem enterra; e desenterra num segundo; eu vivo morto pelo mundo; e me afundo, e me afundo; pára, por favor; eu sei que o quarto tá imundo; sente o cheiro, e o sabor; não ser velho é a minha dor; que eu não aguento e não aturo; não disfarço e não seguro; acho que, nem sei, no fundo; não vou ser velho; já te disse; me desculpa, mas é isso; sendo raso, ou profundo, sou só eu; oriundo de um jato, despejado em um segundo.