Boa noite

Boa noite

Não posso afirmar que sou ateu

Quem dera eu, viver sem fé

Mas é algo que me apega

A fezinha na hora do jogo, antes de dormir a reza

É mais do que se sentir seguro

É um eximir-se da culpa

É dormir despreocupado

Fechar os olhos e ir a luta

Acordar e não ter medo de rir

Olhar-se no espelho, encontrar-se aqui e ali

Dar bom dia sempre! Ser verdadeiro... Talvez

Não posso duvidar demais, sou humano

Tenho meus mitos, meus ritos, meus banhos de sal

E se sou eu quem decido minha vida fico só

A esmo vagando, pastor sem rebanho

Nessa vida pastoril sabendo sempre

Onde, quando, porquês

Quero mesmo é desconfiar de tudo

Entregar a quem der mais por mim

Ser fiel todos os dias a quem me disser “sim”

Respeitar os “nãos” da vida como um eterno aprendiz

E de quando em vez me fazer de louco, atirar nos ouvidos

Agir sem pressentir, instinto quando presente me faz estar vivo

Instinto tá aí pra isso

Sem fé seria animal demais para ser verdade

Culpado demais para me entregar a vontade

Fraco demais para aguentar a realidade

Perdido demais para ajoelhar, consentir, com as divindades

E se amar for coisa de destino, sopro

Se for algo relacionado a fé, rezo

Pensamento positivo é tudo, vibro

Rio sempre na frente do espelho, vai que quebra

Como poderia deixar alguém se não fossemos nos ver

Logo ali, quem sabe hoje ou amanhã, esperança tá aí

Sairei do mundo em busca de um lugar, quem sabe veja um deus

Os meus, encontre até a razão para amar

E quem me diz que ama e entende é superficial demais

Amar ultrapassa todo o clichê das frases

A fé move destinos, eu acredito

Morrerei acreditando, amando, ficando nu

Que é pra ver se dá sentido,

Até onde vai o pudor feminino

Se é que existe um limite, intransponível...

É a folha do outono, é a lufada cheirosa

Um domingo de manhã

É a fé, é a esperança, é o amor pelo desconhecido

Quanto mais cavo mais fundo fica, vazios cheios de mim

Previno complicações, rezo

Arrisco-me sempre, adrenalina

Amo descomedidamente, arrisco

Deito cansado, talvez acorde amanhã, rezo antes

Gabriel Amorim 24-06-2014