MINHA METADE SEM MIM
Queria te arrancar de mim
Como uma depilação definitiva
Como se arranca pela raiz
Uma dor de dente
Mais sempre sobra resíduos fantasmas
Acreditei no céu
E agora em brancas nuvens
Te desenho neste pedacinho de papel
Neste inusitado desencontro
Tento me livrar deste monstro
Que povoa minha mente
Tu ainda ardes em mim como vulcão latente
Como se eu fosse o destino e tu meu carma
Chegas sem fazer alarde me fere sem arma
E te inflamas como se eu - um herdeiro infante
Estivesse preso dentro do inferno de Dante
Sou um mero anão sedento junto a água fresca
E esta paixão que sinto é tão gigantesca
Como o monte Sião
E a grandeza pacífica de Salomão
Esquecer-te é me eternizar no teu instante
Um bater das asas dos teus cílios sobre mim
Faria de mim um imortal Serafim
Como um sonho que ardejante em ti adormeço
Esqueço-me e passo a viver em tua alma
Em teu escombro em teu avesso
Vives em mim como um muro de grafite
De que vale a tarde ensolarada
Sem banco na praça e sem pombos em revoada...
Sou matemática sem tabuada
Uma pseudociese - um zero engravidado de nada...
Não consigo sair de teu mundo que me encanta
Com incontidas fragrâncias exalando as profundezas de tuas essências!
E agora em outra boca trocas libidinosas reminiscências
Que tantos segredos saíram de teus sussurros e urros
Por entre gemidos no lóbulo da orelha no vale do escuro
Entre peles e arrepios
Líamos em braile o mapa da paixão e dos cios
Agora sou uma lápide cheia de mormaço que descansa no frio
Tudo é silencio e a lembrança perdida
Escorrendo palidamente é meu estio
E tudo que era de trás pra frente e transparente como o tato
É somente uma sombra um delírio se escondendo
Na água da boca de meu palato
Exsudadas pelo sol morno de minha lente de contato.