Flôr felina...
À minha Mél
*
Minha senhora e ama
pastora do meu rebanho,
que muito nobremente
vez ou outra,
remete-me um olhar de soslaio
verde jade,
e me procura
e foge,
e se esparrama pela cama (toda sua)
de quem ouve conselhos de pelúcia,
e tece calmamente seu tricot
olhando estrelas,
tentando decifrar o céu noturno,
eu me declaro sua serva e escrava.
A tarde,
minha senhora lê poemas de flôres,
ouvindo Chopin.
A noite,
sorve uma taça de vinho,
e me procura
e me ama.
E quando o tempo muda,
despreza o meu amor
e se esconde,
ouvindo mensagem dos ventos.
A minha ternura por ti,
flôr felina,
é imensa
e contigo quero viver
um grande amor.
No escuro do quarto
nos visitamos,
me invadindo
enigmática,
silenciosa
e macia.
Quieta e mansa
como todos os felinos,
minha flôr impiedosamente
me arranha
e morde,
cruéla e verdadeira.
E depois,
descansa feliz.