Espiava-se a solidão

Não havia refulgência, nem desbotado Sol

Nem luar escondido no ventre altero da Lua

Nem sequer no zimbório areal

a insipiência galopada. Nem o médão

se aquietava em cardos, por fim adormecido.

Não haviam vontades competentes

a erguerem, a cada setentrional madrugada,

pálpebras dolentes. Prostradas, submersas

na sede cansada d’alma olvidada.

Não mais que esconsa casa, continuamente assombrada,

perpetuamente sombria.

Espiava-se a solidão.

No sangue branco dos astros

Na juba flor que, arrebatada ao caule,

capitulava, pisava o chão.

Não haviam mais que chuvas

que se choravam desacompanhadas

em voos de aves sem asas.

Nada brotava, nada se enformava.

Por ti se encheu o dia em luz de prata, roubada à Lua.

Por ti a noite se embriagou no néctar alaranjado do Sol.

Por ti o mar se abraçou à falésia dor, em prantos e risadas.

Por ti as dunas são agora capitulares varandas,

seios pomos de mulher a florir açucenas,

no rir canário d’alvoradas.

E as bridas são agasalho, veladura branda do suor,

dos corpos desfilados em galardões de passados atentos,

desgrenhados a cantarem-se nas entranhas e nos

braços dos ventos.

Em sinos tangidos, no arco-íris dos nossos comuns sentidos.

Mel de Carvalho
Enviado por Mel de Carvalho em 12/05/2007
Código do texto: T484246
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