Marinho
Ao meu querido amor marinheiro
Que se vai pela praia de minhas mágoas,
Se perde nesse mar de lágrimas,
Vai embora agora sem se despedir,
Foge de mim meu dulcíssimo cavalheiro
Some ao longe em minha dor,
Olvida-te que sempre me haverá amor…
Tua areia alva escorre por mim
Me envolve em ardor
Dessa praia vazia assim,
Agora torno-me soror
Quebra nas pedras
Em surdo ruidoso,
E sinto o sal da tua espuma.
Me parte o coração esse teu brado silencioso
Sou agora mulher marmórea a beira-ti abandonada,
Sirena do amor lontana,
Pobre mal-amada
Ainda poetisa-amargura
E tu, moiro meu, caro marinheiro…
És o barco em que te vais, és o mar de banzo em que me afogo,
És amor e dor, minha mágoa, minha lágrima, dono de meu imo,
És desvairo meu que jaz imperfeito em perfeição,
Se foi ao longe, mas vive em cada ocaso de minha vida,
Inesquecível, impassível, memória inquebrável, paixão interminável
Que mantem-me ainda aguerrida
Meu primeiro amor sincero, sorrateiro,
Ainda és detentor único de meu esguio e tresloucado coração…