Pirotecnia

Ser fogo

Ser chama, ser lama, ser vulcânica lava

cratera aberta em dádiva.

Ser mulher a acontecer

em genésicas vontades pontilhadas

partilhadas no prazer

concavo da pedra esmerilada.

Astronave fortuita, avultada em chuva

nos bagos rubros duma romã,

nos odores ébrios dos lagares

a escoarem-se galopantes, em papiros de carmim,

na arqueologia do verbo silenciado e calvo.

Astronaves, navegantes, em escuta.

Do teu corpo, do teu verbo,

convexo no postigo dissídio do teu ser.

Ouvir-te, folhagem estrepitosa,

no assombro,

no trigo brusco, reverdescido.

Na aveia percorrida

nos dedos nus dos insectos.

Alfabetos, rios d’afectos reclinados

em pálpebras entreabertas, respiradas

no hoje. No instante.

No talvez amanhã.

Nos desígnios, nos propósitos,

nos signos

justapostos, costurados no papel da pele.

No papel sugado

à machadada na arvore original …

e nele ser fogo

ser chama, ser lama, ser vulcânica lava…

Ser tudo, por fim, cicatrizada a ferida,

na volúpia sagrada, explodida em pirotecnia,

no paralelo poema, na rima e na palavra!

Mel de Carvalho
Enviado por Mel de Carvalho em 11/05/2007
Reeditado em 11/05/2007
Código do texto: T482804
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