PERDIDA
O quarto vazio
às quatro da madrugada,
abro os braços e me estico todo
tentando alcançá-la;
ao tocar o travesseiro vazio,
desequilibro-me na túmida solidão
da noite, que vai-se escorrendo
líquida e silentemente
– fora há anjos ao jardim,
sobre os finos arames dos varais,
a sussurrarem sobre mortes ícaras
e ressurreições fênix –,
entre as esquálidas paredes do quarto
– antes vivas com a presença dela –
e sob a luz neon apagada;
vai-se-me também esvaindo
a alma naufragada,
sem nenhum harmonia plácida
e sem nenhuma esperança grávida
para enxugar-me as lágrimas.
Péricles Alves de Oliveira