O VOO DOS INCAUTOS
Depois de conseguirmos resistirmos
a tanto sofrimento e dor
que fabricamos com chuvas
de entenebrecidas
palavras,
e de nos termos reconciliado
às tristes, silentes e saudosas madrugadas,
após tantos desvarios
e quedas,
pensei que nos havia
surgido forças suficientes
para superarmos o poder do verbo volátil
e a abnômala, ególatra e possessiva
senciência da mente,
e para mudarmos, enfim,
os rumos contrários dos fortes ventos
que se nos sopram à beira dos precipícios
onde nos temos andando.
Sim, pensei que realmente
havia chegado o tempo
em que se nos fosse possível
avançarmos juntos:
tu e eu;
livres como pássaros
a voarmos por entre joios e trigos,
e a nos amarmos cândida
e libertamente,
sem que nos fôssemos
atingidos pelas esplêndidas imagens
e pelos ominosos destroços
ao caminho.
Péricles Alves de Oliveira