À TUA PROCURA!
Não te encontrava.
Caminhava sem norte e ao som mudo da solidão me lançava o bramido de um açoite depressivo.
Administrador dessa chaga vazia, sobrevivia a ignorar o viver, amava o que jamais fora amor.
Sorrindo em pleno horror, era concebido noite e dia, acalentado sob o leito de um abismo.
E caía sem destino, clamando pelo chão que enfim findaria essa ilíada sem cor.
Corro angustiado. Busco o toque inaudito dessa pele que reporta-me às maçãs.
Não igual corcel sem rumo, cego à sede de achar seu fim,
Mas tal qual a minúscula seiva a percorrer sua lida e visando a vida estampada no jasmim.
Corro sem cansar de não te achar, pois me acho a cada dia, quando entendo que feliz é quem pode te encontrar!
E te encontrei.
Estampada no mais formoso dos astros, viajante nas gotas de prata de todas as ondas do mar.
Escondida no azul do céu, dentre os cachos da videira, erguida qual troféu pela linha do horizonte.
Visitei meu próprio peito e me abriste a porta: eis que teu perfil removeu o véu, alumiou-me a fronte.
Quando menos vi tua luz me rodear, quem corria a ti sem jamais te achar;
Pôde te encontrar no mais alto monte de seu próprio amar!
Foi assim...vi o sorrir da expressão solar.
Chuvas de pétalas; o mais denso e menos pretenso do mais puro mel a destilar .
Vi a lógica da ótica aterrorizando o que seja seu conservador ponto de explicação;
Na penumbra do desenho de tua voz – afirmou meu coração – vi o teu olhar!
Foi o toque abstrato mais real que pude ter;
Foi o sonho mais tangível, fugitivo de todo meu imaginar;
É sem toque, vez ou beijo – é sem colo, sem abraços, sem malícia, sem desejo,
Que planejo te esquecer sem de mim jamais poder te ausentar!
Agora te perco...
Por mais bela que seja a noite, o mistério de sua penumbra sempre te leva de mim.
Ainda que sereno o deleite da canção que me é tua voz, triste admito que ela sempre se cala.
Pelas ruas, nas ondas, no azul infinito, se esvai o teu rosto que me espera na sala.
E no quarto, sem sono, eu te perco em horas eternais do meu fim.
Foi assim que te achei...
Era a busca por ti que se dava à sombra de meu ignorar.
Nem sabia que por ti esse buscar se empreendia – até que por fim pude te encontrar.
Trago em mim o saldo de um caminhar, afluente sereno, desse mar de loucura.
Contradigo a mim: te almejei, te encontrei, mas perdura ainda essa eterna procura!