Amar é correnteza de rio
Desamar é desaguar no mar.
 
Amar é primavera no cio.
Desamar é outono melancólico
e frio.
 
Amar é fonte de luz.
Desamar é a treva medieval
Que conduz a dor.
 
Amar é brincar no abismo.
Desamar é se perder por lá...


Amar é colorir as nuvens.
Desamar é despencar de lá.

É a queda em preto em branco.
 
Não podemos fazer outra coisa, senão:
Amar e desamar.
E amar novamente.
E, novamente desamar.
 
Num fluxo constante e fatal.
Até a morte decretar o sono absoluto.
Então amar não terá que acordar.
E ter memórias
e não ter fotografias para guardar.

É fazer tramóias
Para enganar o tempo.
Para espreitar o vento.
E ler as mensagens criptografadas
nas almas passantes.

Amar é ninho.
Desamar é abandono.
 
Amar o roto, o sujo
e o esfarrapado.
Desamar o lindo, o belo
e perfeito.

Inexplicavelmente
amar e desamar novamente.

Amar pelos ralos.
Escorrendo sentimentos por hormônios
O desatar os nós de neurônios.
Entristecer-se por monossílabos.
Pois estrofes de músicas fazem lembrar.
Por acordes nostálgicos
os momentos bizâncios.
 
Amar pelas frestas.
Flancos.
Feridas abertas a jorrar
lirismo em festa.
 
Desamar  pelo escudo,
Escafrando ou cárcere.
Engaçar-se
Engafecer-se.
Lanhar-se até o sangue.
Ou até a culpa.
Ou a última decepção.
 
Engalfinhar-se a tudo.
Aos cantos, recantos e
silêncios.
A vestígios ou alentos.

Com a última esperança de
preparar o coração
para novamente e
impunemente
amar.
 
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 09/05/2014
Código do texto: T4800659
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