BILHETE
...que te mandei...
Onde está? Se ainda não tive resposta.
Dentro de um livro que ainda não terminou de ler?
(Marcador de página)
Se atrás da porta, embolado, jogado...
Esperando a faxineira varrer e empurrar pra debaixo
Do tapete...?
Ou dentro da sua bolsa marrom
No fundo escuro perdendo as letras o tom?
Penso: Fatiado e desfeito no vento a fora,
No ar melancólico do desprezo da tarde
Que insiste em deixar de existir e misturar
Com a poeira urbana?
Sou ainda menino vadio, porém mais apaixonado ainda
Pelo seu riso... sua voz rouca e suave como algodão.
Meu jardim clama pela sua chuva.
Minhas mãos pálidas e frias pedem suas luvas.
Meus poemas cheios de você está cansado de sua ausência.
Por onde andas o bilhete que te mandei?
Virastes um barquinho de papel, afastando-se
Pelo mar revolto do seu silêncio?
Ou jogado do alto de um arranha-céu e apanhado
Pelo um transeunte que ao ler diria: Jaz um amor!
Ah, minha flor!
Me mande um sinal, um recado, um abraço, uma resposta...
Ou me mande para o inferno! Mas já não adiantaria.
Sem você já me sinto um pobre diabo.
Me queimo nas chamas da saudade.
Sou um poeta errante irreparável,
Você me faz assim, perdido onde me encontro.
Quero pra mim um novo conto, nem que seja pra mim,
Mais uma vez, uma fábula breve...
Se jogue no meu jogo, entre na minha tábula.
Mas, por andas meu bilhete?