Lembra de mim?

Desculpa esse meu jeito infantil

Perdoa esse não querer se desligar

Se tem algo que rogo com veemência

É que no teu peito bata

Febril esse sentimento materno

Esse elo eterno

Esse não dormir até o abrir da porta

E que Deus te dê sempre paciência

Terás netos pela frente

Mas antes disso tens a mim

Pobre cordeiro, tão criança, tão perdido, tão roteiro...

Peço coisas que não uso

Nego coisas que assino

Não quero dormir cedo

Fumarei cigarros e farei meninos

E como quem não fez nada

Voltarei ao teu colo

Rezarei uma Ave-maria, pedirei a bênção

Me deixa abençoado

Que é pra acabar de vez com essa agonia

Deito no travesseiro tudo é reprovação

Vou rezar adormeço,

Sou ainda teu pequeno guerreiro, mimado e sempre

Teu contraventor de momentos clementes

Os pés e as mãos da besta

Teu herói, teu príncipe, teu herdeiro

Desculpa, ó mãe,

Se um dia justifiquei teus erros

Sou esse que aqui está

Portas abertas me dão medo

Casa escancarada deixo entrar

Não sou de entrar em casa de estranhos

Limpo os pés na soleira,

Faço cerimônia,

Sou teu soldadinho a marchar

E vez ou outra quando quero

Sou teu hasteio, teu fim justificando meio

Tua razão de sobreviver, a sombra do luar...

Gabriel Amorim 01-05-2014