DILÚVIO
Chove,
Chove muito,
chove torrencial e friamente:
águas doces caem
das enegrecidas nuvens do céu,
formando poças aos chãos dos taciturnos
caminhos por onde andamos
tão incautos,
e lágrimas incontidas, salgadas,
escorrem dos entristecidos olhos nossos,
alagando falésias aos fulcros
de nossas almas
cansadas.
Sim, chove demasiado,
e tudo se escorre, rápida e vertiginosamente,
pelos inexoráveis laiveceres do tempo,
por onde também nos esvaímos
naufragados;
enquanto tu te mumificas,
assim tão vazantemente preceptiva,
esquivando-te cada vez mais
de meus abraços e beijos
molhados.
Péricles Alves de Oliveira