A SORTE
Sorte que me veio. Sorte que acertou meu ser!
O sereno sol que nasce destinado ao campo, que ama e é amado pelas flores;
Mas pretere as fendas da natureza, prefere iluminar meus dissabores;
É fonte que destila um só viver, força singular de todos que sou;
Tapete que se estende por onde vou, pingo de arco-íris em meus horrores!
Sorte em chuva fresca no calor, gelo entre os lábios no deserto;
Asas pra trilhar a branca nuvem, rede sob as sombras do paraíso;
Riqueza que me acha se estou longe, saúde que me cura se estou perto;
É a tortura que afortuna, é o choro dolorido mais mavioso que o meigo riso!
Sorte minha é ser fugitivo de teu adeus.
Sorte minha são as grades em que me acho.
Eu que nada tinha, deglutia o sabor vazio da fartura que o nada me legava;
Ontem miserável me via, ontem desafortunado me considerava;
Hoje no espelho não me vejo;
Refletida em mim eis a sorte, que em teu beijo se encontrava!