A SORTE

Sorte que me veio. Sorte que acertou meu ser!

O sereno sol que nasce destinado ao campo, que ama e é amado pelas flores;

Mas pretere as fendas da natureza, prefere iluminar meus dissabores;

É fonte que destila um só viver, força singular de todos que sou;

Tapete que se estende por onde vou, pingo de arco-íris em meus horrores!

Sorte em chuva fresca no calor, gelo entre os lábios no deserto;

Asas pra trilhar a branca nuvem, rede sob as sombras do paraíso;

Riqueza que me acha se estou longe, saúde que me cura se estou perto;

É a tortura que afortuna, é o choro dolorido mais mavioso que o meigo riso!

Sorte minha é ser fugitivo de teu adeus.

Sorte minha são as grades em que me acho.

Eu que nada tinha, deglutia o sabor vazio da fartura que o nada me legava;

Ontem miserável me via, ontem desafortunado me considerava;

Hoje no espelho não me vejo;

Refletida em mim eis a sorte, que em teu beijo se encontrava!

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 07/05/2007
Reeditado em 28/08/2008
Código do texto: T478365
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