Mudança de atitude

Eu costumava fragmentar as lembranças

dos grandes e profundos amores (e amados).

Picotava e as espalhava

em cada lugar em que eu passava.

Associava (e as desconstruía)

com cada paisagem e cada ser

que eu amava

até tornarem-se infinitamente pequenas

a ponto de quase não as sentir.

Não sei se mudei

ou se encontrei alguém tão sólido,

tão firme

e tão visivelmente colado em mim

a ponto de não ser capaz de reduzi-lo

pois seria doloroso como em minha própria pele.

Decidi deixá-lo íntegro

(mesmo tendo que conviver a cada novo amanhecer

com aquela tua lembrança tão vívida em minha frente

lembrando-me também da tua dolorosa ausência).

Percebi que amores não correspondidos

não são e nunca deveriam ser motivo

de fracasso, de vergonha ou tristeza,

mas, mais um motivo

para reconhecermos em nós mesmos,

no ser amado e no mundo

o amor, sim, como um peso

mas como única beleza, leveza.

E, imersos em coragem, colorirmos estas ruas

neste mundo repleto de convenções e solidão.

Alecrim Cristal
Enviado por Alecrim Cristal em 21/04/2014
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