Mudança de atitude
Eu costumava fragmentar as lembranças
dos grandes e profundos amores (e amados).
Picotava e as espalhava
em cada lugar em que eu passava.
Associava (e as desconstruía)
com cada paisagem e cada ser
que eu amava
até tornarem-se infinitamente pequenas
a ponto de quase não as sentir.
Não sei se mudei
ou se encontrei alguém tão sólido,
tão firme
e tão visivelmente colado em mim
a ponto de não ser capaz de reduzi-lo
pois seria doloroso como em minha própria pele.
Decidi deixá-lo íntegro
(mesmo tendo que conviver a cada novo amanhecer
com aquela tua lembrança tão vívida em minha frente
lembrando-me também da tua dolorosa ausência).
Percebi que amores não correspondidos
não são e nunca deveriam ser motivo
de fracasso, de vergonha ou tristeza,
mas, mais um motivo
para reconhecermos em nós mesmos,
no ser amado e no mundo
o amor, sim, como um peso
mas como única beleza, leveza.
E, imersos em coragem, colorirmos estas ruas
neste mundo repleto de convenções e solidão.