Motim
De repente estive onde você estava,
Fortuito, sem que isso quisesse, pedisse...
Longe, um tanto, mais que a pele desejava,
Perto o bastante pra que o sangue ebulisse...
Aí resultou inútil todo o labor do frio,
ele perde força quando fogo incendeia;
natural a água inclinar-se rumo ao baixio,
tanto quanto o tesão inflar nossa veia...
Blasfêmia, dirão, o amor é sobrenatural,
e não pode ser tido em tão pobre acervo;
sei que ele mora no mundo pleno, ideal,
mas excursiona sempre, entre pele e nervos...
Mesmo excelente , abdica da excelência,
se aninha em qualquer colo, numa rede...
se a cuca diz, não! Presa à conveniência,
o corpo diz: Quero, por respeito à sede...
E de sede se morre antes que de fome,
Mas em tal conflito carece que algo faleça;
Tanto a razão conveniente nos consome,
Que uma hora motim, e vai rolar a cabeça...