Escorre-te em mim, como se foras rio ...

Escorre-te em mim, como se foras rio,

nas margens incontidas, alagadas, do meu ser

Fluí na inclinação da luz de alma liquefeita,

a incendiar a voz improtelável da carne,

de sensualidade imatura e imperfeita.

Escorre-te sem medo, no anseio, no tremor.

Na ousadia que pressinto no rodapé da palavra.

Escorre-te em mim, tal lâmina d’agua,

sobre a terra sedenta do arejo na voz aguda da lavra.

Escorre-te em mim, cigarra desfalecida,

formiga concisa. Percorre-me nos teus dedos

húmidos de esperança. Percorre-me, na nudez

pálida de um bosque rumoroso. Desliza-me

o corpo a ondular, em cada vaga, em cada brisa

em cada volta de mar.

Na ancestral sabedoria, supérflua e transparente,

de nos sabermos iguais e tão diferentes.

Esgota-te em mim, amado,

convicto que sobre nós existem

nuvens a ofuscar o azul virgem do nosso mar!

Mel de Carvalho
Enviado por Mel de Carvalho em 06/05/2007
Reeditado em 06/05/2007
Código do texto: T476836
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