Antes de qualquer coisa
Antes de qualquer coisa
Que afora lhe ocorra o que me viesse em azíguo
Dá-me um beijo correndo,
E a paz do teu lindo olhar.
Antes de fechar a porta,
Pára só mais um instantinho
E observa-me a face enrijecida
Pelo medo que traz-me agora
De lá fora poder me esquecer.
Eu me visto e me contemplo ao espelho
E resmungo e esqueço o perdido,
E desfaço por fazer o ferido,
Calando-me ante a face pasmada...
Pelas ruas eu vejo o brilho
Dos teus passos que acalentam a noite
Dos teus gestos que o vazio dos olhares
Inocentes, perguntam-me então
Tanta coisa desse amor transloucado
Que te tenho num temor de passado
Nos afetos que ecoam serenos
Abraçados ao murmúrio e ao silêncio.
E tenho a gritar-lhe tanta coisa aos ouvidos,
Do meu amor que nessas ruas carrego
E que simulo dispersar-se por aí
Quando caminhas e me honras teu pensamento...
Num iterar de aprendiz fabulando,
Brotam lírios, colhem-se estrelas,
Transpõem-se rios, juntam-se os ventos
Nos meus éolos ruflos pensamentos
Que da poltrona da sala de casa
Numa coisa essa de ir-se embora
Calcula as forças que atêm-se aos corpos
E quanticamente, pela poeira deixada à porta
Vão afora a te procurar...
Ah! Não! Não se faça assim
Não me dê um beijo correndo
Nem a paz do teu lindo olhar
Dá-me os teus olhos, teus lindos olhares
E um beijo que de lento, vai fenecendo
Como a vida que vai morrendo, morrendo
De quem sempre, sempre vai te amar!