Estabilização de Um Sentimento Inominável
(Poema Inacabado)
I - Presença
Amor eu não sei precisamente o que é;
é um misto de sensações,
engendramento de motivações,
uma miríade de terminações.
É fogo que arde sem se ver,
mas que queima quando se toca,
que contorce o corpo quando se roça,
que explode em extâse quando se goza.
É também uma entrega,
desarmamento de "dever ser",
transmutando-se em "poder ser",
que se realiza através de "querer ter".
Talvez o desvelar de virtudes,
gestação e encarnação de potências,
coisa abstrata que foge das ciências,
presença que acomete o corpo de carências.
Afeto indefinível.
Palavra buscando expressar um constante devir.
Corpo estremecendo ante o beijo por vir.
É aquilo que a distância provoca, e não nos deixa dormir.
II - Falta
Medo que o longe traz, por não se ver,
pânico que na solidão bordeia,
falta que violenta em agonia,
privação de ouvir a voz que angustia.
Boca pedindo a troca de hálitos,
desejo de sentir o calor alheio,
ausência que provoca devaneios...
É ficar sem ação e não ter a quem pedir conselhos.
Sentir cheiro de grama e não ter prazer.
Desvanecimento de imagem ao fechar de olhos,
busca de resíduos de paixão entre os poros.
É dormir desperto em um mundo sem sonhos.
É não se alimentar,
pois não há a necessidade de ser saciado,
tudo entra em modo estático,
o "por fazer" insere-se no âmbito do procrastinado.
à Regina Olea