O QUE É NOSSO E NINGUÉM TOMA
Eu vejo que o meu amor é passatempo mero,
eventualidade de calendário na geladeira,
quanto mais me descubro é porque estou ao seu lado
e quero arrancar a nota fundamental da flauta
ao te ver tão inteira que dança nua ao sair da flor,
o que é nosso e ninguém toma são fotos e versos
em que renovo o pedido encabulado,
pois não é fácil amar assim tão separado
que meu ser é um bicho vindo do número,
lúcido porque fecho os olhos e te percebo o cheiro,
Inútil a minha arte não enche carteira
como o revólver é uma peça decorativa
na sala de troféus, aonde o cofre é o resultado da timidez,
o que levo é invisível como a bebedeira,
mas permanente no sabor que louco te extraio
Ordenho tua manha de madame putana
aonde Netuno deixou um palácio desenhado na concha descomunal,
e o resultado é a orgia dos sexos que nunca foram cavalos
mas gargalham no mato festejando galopes pela noite-cigana
O pescador rouba da Natureza o que interessa,
como saqueio a tua seiva sem piedade
porque sou carrasco da tua entrega,
e só a rendição da carne amada me eleva