EFÍGIE DE UM AMOR AO ESPELHO
Não, não era amor
isso que dizias
sentir:
o que quiseste
foram sombras e insânias
– maiores que as tuas –,
nas horas em que te
descarregavas,
o que quiseste
foram palavras adornadas
nos momentos em que
precisavas,
o que quiseste
foram sementes de vida
quando,
em pedras do caminho,
te quedavas,
o que quiseste
foram resistências de mim,
quando,
em outros amores vãos,
combalidos por tuas ilusões
e chagas floridas,
te angustiavas;
enquanto, no momento
de te ofertares,
regozijavas faustas
alvas,
e riscavas o ar
com adagas
afiadas,
aspergindo minhas feridas
com o sal grosso
de tuas águas
e transformando cada sílaba
em dor e silentes
lágrimas.
Péricles Alves de Oliveira