A PORTA DA FRENTE

Na porta da frente, eu quero uma saída

Pra tua volta, pra tua partida

Quero a certeza de que és desimpedida

E se voltar, será inteira, decidida

Quero sentir sempre uma ponta de desencanto

Pra que a segurança não mate a sede por tua saliva

Quero uma rede, uma cama, uma mesa, uma parede

Qualquer lugar onde possa te amar sem medida

Quero um medo ilógico, uma neura incontida

Pra que não morra a conquista dia a dia

Quero uma tarde, um por do sol, melancolia

Um som bem triste. Um blues, baixo soturno

uma guitarra distorcida.

Chuva no teto e raios pardos. Quero trovões

E a incerteza que é o que dá sentido a vida.

E a tua pele, na minha pele, entregue, lúcida

Descomedida.

E se o tempo levar pra longe o corpo, o sentido o rosto

Se não houver mais um outro dia

Quero que a boca, mantenha o gosto

E que meu corpo adivinhe sua recaída

E que minha alma, ou algo que o valha

Seja irmã da sua, ou parecida

Um amor tranquilo e todo amor

Que nos puder dar essa vida.