Proditione - A algum cavaleiro negro de aço

Vem, mesmo desvencilhando-se, cavaleiro de negra armadura

para quanto mais distante é o gozo

n'onde teus olhares à noite densa se perderam

nos afagos de outra dama embriagada

e lança-me teu brado forte e oculto

entre quereres malditos, profanos

porque ainda hei de desejar o que já não possuo

tampouco almejar o que muito temo

mas em silêncio pronunciar teu doce-apocalíptico nome

nestas e n'outras horas de descuido

quando mais nem sequer deuses possam ler

das formas sibilantes em doces beijos

crava-me as mãos com tanta volúpia

que em amargos verões hei de adormecer em teu peito

e sonhar meus pesadelos de Amor eterno

e doar-me aos pecados de teu leito

e quando ao raiar da lucidez, prescinda

nossa razão maior que as madrugadas

entre essas praças frondosas

que em secreto guardam tal romance

quando mais nem sequer deuses possam ver

e ditam-me, horrorizadas, pudicas

as vozes do coração inda em pedaços:

'Tu és culpada, maculada'

Que em coro responde meu sexo:

'De Amar-te perdidamente, negro cavaleiro'

e ao despertar do sono impuro

onde pouco há de tuas vestes

ainda teimo em querer-te noites e noites a fio

quando mais nem sequer deuses possam crer.

E descompassadamente torno-me tua

e de tanto desejo em tanta espera

já sendo tarde para querermos castamente

damo-nos ao prazer carnal, apenas

e que Deus absolva-nos da concupiscência

para que Nele possamos Amar maior que o corpo

bem maior que nós mesmos!

Anna Beatriz Figueiredo
Enviado por Anna Beatriz Figueiredo em 23/03/2014
Código do texto: T4740135
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