Proditione - A algum cavaleiro negro de aço
Vem, mesmo desvencilhando-se, cavaleiro de negra armadura
para quanto mais distante é o gozo
n'onde teus olhares à noite densa se perderam
nos afagos de outra dama embriagada
e lança-me teu brado forte e oculto
entre quereres malditos, profanos
porque ainda hei de desejar o que já não possuo
tampouco almejar o que muito temo
mas em silêncio pronunciar teu doce-apocalíptico nome
nestas e n'outras horas de descuido
quando mais nem sequer deuses possam ler
das formas sibilantes em doces beijos
crava-me as mãos com tanta volúpia
que em amargos verões hei de adormecer em teu peito
e sonhar meus pesadelos de Amor eterno
e doar-me aos pecados de teu leito
e quando ao raiar da lucidez, prescinda
nossa razão maior que as madrugadas
entre essas praças frondosas
que em secreto guardam tal romance
quando mais nem sequer deuses possam ver
e ditam-me, horrorizadas, pudicas
as vozes do coração inda em pedaços:
'Tu és culpada, maculada'
Que em coro responde meu sexo:
'De Amar-te perdidamente, negro cavaleiro'
e ao despertar do sono impuro
onde pouco há de tuas vestes
ainda teimo em querer-te noites e noites a fio
quando mais nem sequer deuses possam crer.
E descompassadamente torno-me tua
e de tanto desejo em tanta espera
já sendo tarde para querermos castamente
damo-nos ao prazer carnal, apenas
e que Deus absolva-nos da concupiscência
para que Nele possamos Amar maior que o corpo
bem maior que nós mesmos!