Sigo aprendendo

Aos poucos sonhos e lembranças misturam-se

Dentro de um tempo muito não existirá na história

Cidades inteiras apagar-se-ão em minha partida

Pois apenas tem vida em minha memória

Valores antes tão certos agora tão bobos

Não tenho mais a quem esperar

Foram-se a amada, um filho, todos os amigos

Mas alegro-me com quem há de chegar

Minhas vistas turvas teimam firmar em cenas borradas

Os passos firmes de outrora se arrastam diminuídos

As mãos que não se esqueceram o toque estão no colo largadas

Ainda guardo abraços nos braços enfraquecidos

Saiba que repousa em mim o antigo menino

Ora salta ora medita em poesias retidas

A Alfazema tem inveja de um mimo

Os Almíscares são lágrimas vertidas

Lembro-me de encostas que já não são

Muitos cursos foram alterados

Rios lindos consumidos na poluição

Grandes veredas e vales inundados

Superei muitos medos outros me venceram

Inventei recursos recusei discursos

Vivi plenamente não dormi demais

Meti os pés pelas mãos como todos os mortais

Já vivi tantos anos que às vezes confundo-me

Penso tratar-se de outra vida a que ainda estou vivendo

Ela virá, eu sei

Mas enquanto não chega sigo aprendendo.

Pedra

Homenagem ao meu querido pai, por já 96 anos.

Frase original dita, com freqüência, pelo papai:

"Ela vai chegar, mas enquanto não chega sigo aprendendo e se for agora, vou contrariado"

Vicente Bruno

Nunca imaginei poder publicar mais uma vez esse poema.

Sinto-me imensamente feliz.

No dia 10 deste mês, papai completou mais uma primavera:

Cheio de saúde, alegria e causos para contar.

André Fernandes e Pedra Mateus
Enviado por André Fernandes e Pedra Mateus em 22/03/2014
Reeditado em 13/01/2018
Código do texto: T4738864
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