secretas razões
fosse talvez
porque nossos pés
feriram-se
irremediavelmente
em pontas de pedras
pelo caminho
ou porque nosso refúgio
fosse o silêncio
das folhas de outono
que amareladas
aguardam o tombo
e temem o vento
a assobiar a música
da morte
quem sabe a
distância
dessa escuridão
que cresceu
entre a minha mão e a tua
ou as letras que se soltaram
das palavras ternas
e apodreceram no chão
pisadas como frutos
abertos na queda
fosse pelo espanto
das tempestades repentinas
a castigar nossa casa
ou pelo perdão impotente
enviado mas não entregue
fosse por inúmeras razões
que meu entendimento
trava nos cantos da memória
pela fome dos tempos de inverno
ou pelas incertezas das galáxias
pela cegueira dos espelhos
ou pela excessiva aragem
dos campos sagrados
que o amor cansou de si
e atirou-se do alto
do último andar
do coração do mundo
Helenice Priedols