O verbo e a carne
Ah, como é bom o dançar das letras;
Permitir que, como crianças levadas,
As harmonias, primas-irmãs
Das músicas e dos sonhos,
Brinquem de roda e amarelinha
No quintal do meu quarto;
Fazer amor e canções até bem tarde,
Sentir a noite sonolenta
Acariciar meus olhos abertos,
Ganhar jazz e fazer blues.
Em horas mortas de cansado,
Deixar o mundo dormir
Em sua própria intimidade,
Sem sombras no pensamento,
Visitar o silêncio das altas horas
Enquanto os automóveis, calados,
Escondem-se em suas cavernas
De ouro, prata e marfim.
Depois de toda odisseia noturna,
Se espreguiçar como um carinho;
Olhar para o lado e ver que,
Além da pessoa amada, só existe o verbo,
A tão solitária, cantada, conjugada
E pouco sentida, palavra AMOR.