torpedo 8814

essa mulher me deixa doido

me faz sentar na cadeira

quando ia me aprontar e sair

me joga no meio do Saara

ali me traz minha tara

e ai de mim se escapulir

me joga um balde de cinza

e diz que me ama no mato

que vai me enterrar e de fato

me traz o sorriso da morte

e eu finjo que fujo da sorte

de tê-la de novo em meus braços

porque quero tê-la pra sempre

no auge do meu fracasso

com aquele sorriso invulgar

não quero nem cogitar

de cerzir minhas meias

só quero aquelas areias

que são seus cabelos ao sol

ao sul de Paranavá

achar que sou o rouxinol

que nunca deixou de cantar

e canta sozinho pra ela

aquela que está lá na tela

do meu cavalete encantado

enquanto eu fico de lado

imaginando a cor

de que foi pintado o perdão...

e quando ela vem e repete

que sou seu poeta amado

aí quero me dar na cara

pois não sei de que lado fico

não sei se fico no infinito

a quarta ou quinta dimensão

vai ver que já sou marciano

ou um E.T.de plantão

o tanque tá cheio de roupa

lá vem minha mãe outra vez

dizendo que é mais feliz

por ter o filho que tem

mamãe, pode crer, tudo bem,

feliz comecei a ficar

depois de encontrar essa moça

depois de ela me encontrar

ai! uma formiga me mordeu

bem na bunda

me inoculou com seu prêmio

eu vivo neste milênio

poeta amado eu sou

a dor, muito mais que um presente,

é cheiro de gente e sabor...

Rio, 10/08/2006