Rui trabalhava de pedreiro numa empreitada
Por enquanto, solteiro, mas queria uma namorada
O que ganhava era pouco e era o que atrapalhava
De dia uma luta sem trégua e à noite ele desmaiava
Certa vez, o olhar de Rui se deparou com o olhar de Lia
Ali surgia uma história de amor verdadeiro e de valentia
Mesmo sem dinheiro eles se casaram da noite para o dia
E prometeram fazer a casa do sonho para firmar a alegria!
Ela trabalhava de lavadeira e ele continuava como pedreiro
E num esforço fora do comum conseguiram guardar o dinheiro
Rui começou a levantar os tijolos do seu sonho encantado
E Lia estava radiante e oferecia café para o eterno namorado
Os olhos dos dois brilhavam
para cada pedacinho da casa que surgia
Juravam um ao outro que teriam vários filhos;
outro sonho de Rui e Lia!
Almejavam o belo dia em que naquele pedaço de chão
estariam vivendo
Lia olhava o jardim da casa e sorria,
pois as flores estavam nascendo
A casa ficou pronta em dois anos
e eles passaram a dormir dentro do sonho
E não demorou e eles ganharam o primeiro filho;
bonito, sadio e muito risonho
Lia trazia o bebê quando ia trabalhar na casa da patroa,
e danificava a mão na quiboa
As mãos calejadas de Rui mostravam a árdua labuta;
ele continuava na mesma luta!
Certo dia os dois fizeram o que sempre faziam,
foram trabalhar logo depois do café
Mas antes, a oração, o carinho e o beijo;
aquela doce família vivia do amor e da fé
Era março e todos os dias as nuvens pesadas
traziam chuvas intensas e enxurradas
Naquela tarde ocorreu uma tempestade,
tão violenta que destruiu a linda morada!
Quando voltaram do trabalho,
Lia e Rui assistiram a cena mais difícil de suas vidas
O sonho dos dois estava no chão
e no jardim não restou sequer uma margarida
As lágrimas desciam sem nenhuma compaixão;
era muita amargura para o coração
O silencio só era cortado pelos pingos da chuva
e pelo grito sem fim da decepção
Rui olhou para os olhos tristes da amada
e com muita força segurou uma das mãos
E prometeu que ainda não era o final daquele afeto,
pois só a casa veio ao chão!
O vento derrubou todo o sonho, levou o teto,
e no jardim não deixou nenhuma flor
Mas a chuva não arruinou o crucial,
se chovesse mil anos não destruiria aquele amor!
Janete Sales Dany
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Poesia Registrada na Biblioteca Nacional
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