ÁVIDOS CANTARES
Estavam ali, teus cabelos
(Moldura de graça e leveza
Tão imediatas, tão queridas,
Tão envolventes, tão... assim),
Descansando sobre teus ombros.
Tua pele, campo de estrelas,
Embevecendo meus olhos de lua,
Solitários, quedos e aflitos,
Bebendo tua seiva derramada.
Estava ali teu rosto virginal,
Silencioso, exposto ao meu olhar.
Teu suspirar cadenciado, ardente,
Queimava minhas mãos tão tuas,
Tão cegas, tão perdidas no encontrar-te.
Meus dedos táteis salmeavam cânticos
sobre o papiro de tua face lívida, leitosa.
E teus olhos debulharam os meus!
A magia da sedução respondida
em teus dedos trêmulos e úmidos.
Tua boca entreaberta e sedenta
Bebera a carne de minha carne
E o vértice dos lábios teus
Recebera-me lábio, língua e dentes,
Roubando-me de mim mesmo.
Ao teu toque, o mar se abrira
e o que jazia inerte,
Bem mais ao fundo,
Emergiu em turbilhões de afetos,
Revelando tombadilhos centenários.
Quando eu quis ser sensualidade,
Por ti e em mim mesmo,
Eis-me contemplativo, quase sano,
Evocando ladainhas de adoração.
Perdi-me qual seresteiro embriagado
Errando por avenidas adormecidas.
Paulo Pazz