ÁVIDOS CANTARES

Estavam ali, teus cabelos

(Moldura de graça e leveza

Tão imediatas, tão queridas,

Tão envolventes, tão... assim),

Descansando sobre teus ombros.

Tua pele, campo de estrelas,

Embevecendo meus olhos de lua,

Solitários, quedos e aflitos,

Bebendo tua seiva derramada.

Estava ali teu rosto virginal,

Silencioso, exposto ao meu olhar.

Teu suspirar cadenciado, ardente,

Queimava minhas mãos tão tuas,

Tão cegas, tão perdidas no encontrar-te.

Meus dedos táteis salmeavam cânticos

sobre o papiro de tua face lívida, leitosa.

E teus olhos debulharam os meus!

A magia da sedução respondida

em teus dedos trêmulos e úmidos.

Tua boca entreaberta e sedenta

Bebera a carne de minha carne

E o vértice dos lábios teus

Recebera-me lábio, língua e dentes,

Roubando-me de mim mesmo.

Ao teu toque, o mar se abrira

e o que jazia inerte,

Bem mais ao fundo,

Emergiu em turbilhões de afetos,

Revelando tombadilhos centenários.

Quando eu quis ser sensualidade,

Por ti e em mim mesmo,

Eis-me contemplativo, quase sano,

Evocando ladainhas de adoração.

Perdi-me qual seresteiro embriagado

Errando por avenidas adormecidas.

Paulo Pazz

Paulo Pazz
Enviado por Paulo Pazz em 15/03/2014
Código do texto: T4730229
Classificação de conteúdo: seguro