Obra de arte

Plana sobre mim um amor que não veio nem foi,

do qual, mesmo sem esperança não desespero;

sigo arando com essa junta de jumento com boi,

infortúnios opostos diametrais como, adeus, e oi,

vir para mim não quis, não foi, porque não quero...

Areia fina não se solta de todo, tampouco, retém,

ela parece escolher qual, não, me seria preferível;

tais favas contadas, sempre guardam um, porém,

mesmo quem se aconchega nos braços d'alguém,

rumina certos pedaços de algum amor impossível...

Pois, o amor desafia a gente a voos bem grandes,

tão certo como todas noites se rendem, pro alvor;

expõe as quimeras multicores nos seus estandes,

não tendo a fibra do alpinista que doma os Andes,

devaneamos no vale, como tendo asas de condor...

O fato é que ,não se pede um Matisse à la carte,

tampouco, alguém contempla a porção de batata;

é que há um amor, cuja pele ardente, é sua parte,

outro sublime e profundo, como uma obra de arte,

que se dá, tão somente ,à contemplação abstrata...