A Serenata

Uma noite de lua pálida e gerânios ele viria

com boca e mão incríveis tocar flauta no jardim.

Estou no começo do meu desespero

e só vejo dois caminhos: ou viro doida ou santa.

Eu que rejeito e exprobo o que não for natural

como sangue e veias descubro que estou chorando todo dia,

os cabelos entristecidos, a pele assaltada de indecisão.

Quando ele vier, "porque é certo que vem",

de que modo vou chegar ao balcão sem juventude?

A lua, os gerânios e ele serão os mesmos - só a mulher

entre as coisas envelhece.

De que modo vou abrir a janela, se não for doida?

Como a fecharei, se não for santa?

Adélia Prado
Enviado por Carlos D Martins em 03/03/2014
Código do texto: T4713569
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