Sedução

A poesia me pega com sua roda dentada,

me força a escutar imóvel o seu discurso esdrúxulo.

Me abraça detrás do muro, levanta a saia pra eu ver, amorosa e doida.

Acontece a má coisa, eu lhe digo, também sou filho de Deus,

me deixa desesperar.

Ela responde passando a língua quente em meu pescoço,

fala pau pra me acalmar, fala pedra, geometria,

se descuida e fica meiga, aproveito pra me safar.

Eu corro ela corre mais, eu grito ela grita mais,

sete demônios mais forte.

Me pega a ponta do pé e vem até na cabeça,

fazendo sulcos profundos.

É de ferro a roda dentada dela.

Adélia Prado
Enviado por Carlos D Martins em 03/03/2014
Código do texto: T4713564
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