Sedução
A poesia me pega com sua roda dentada,
me força a escutar imóvel o seu discurso esdrúxulo.
Me abraça detrás do muro, levanta a saia pra eu ver, amorosa e doida.
Acontece a má coisa, eu lhe digo, também sou filho de Deus,
me deixa desesperar.
Ela responde passando a língua quente em meu pescoço,
fala pau pra me acalmar, fala pedra, geometria,
se descuida e fica meiga, aproveito pra me safar.
Eu corro ela corre mais, eu grito ela grita mais,
sete demônios mais forte.
Me pega a ponta do pé e vem até na cabeça,
fazendo sulcos profundos.
É de ferro a roda dentada dela.