Enjoo de amar

Pensar que sou marinheiro

Daqueles que o rumo é o horizonte

Vagando pelo inexorável timoneiro

Vendo meu barco de ponte em ponte

E o começo foi só sorrisos, choros

De despedida, tudo era só chegadas

Rumo eu sem destino, porto a porto

Remada a remada

Não pensava em dinheiro, vivia de atracar

Âncoras mil eu solto, vários nós em minhas linhas

Soltavam as velas, sopra vento! Leva-me

Quero comer sal, cheirar maresia, ouvir sereias

E nas marés cheias, mareia! Lua míngua

Espocam pratas no escuro, saltam vidas

Entre meus dedos, fisgam aos montes em meus anzóis

Peixes-espada, agulhões, sangram línguas

Ficou em minha rede é para a vida

Inteira ou repartida, o que escapou

São frugalidade, escorregadias e

Sem vontade, deixo a maré encher de novo

Como era fácil despedir, lenços ao vento

Rio demais desventurado, poucos me aprazem

Fui aos poucos passando por tempestades

Nas tormentas de mim, fui ressacado

E fui sendo engolido, tragado

Marinheiro errante, me atirava em qualquer porto

Hoje, roto, poucas viagens faço

Sou frágil, barbas de molho, poucos barcos

E eu no ócio, vejo admirado a ousadia

Jovens marujos já enjoados com marolas

Mal sabem que o perigo mora nos versos

Solfejos líricos de sereias vadias

Salve Iemanjá, rainha

Gabriel Amorim 27/02/2014