Saudações, republico.


 
Deixei a poesia nos guardados sem serventia,
Tomei as mãos: Martelo, formão e guia!
Desenhei nas madeiras, minha mais dura serventia!
Sou carpinteiro, construo coisas de alegria:
 
Bancos de descanso e molduras para retratos.
Faço, com o esplendor do vazio 
Nada penso
Nada questiono.
Não olho no entorno,
 
Meus irmãos são todos madeiras!
Todos têm olhos de prego e mãos de parafuso
 
Furo madeiras com arco de pua
Encaixo tudo e esqueço
O que foi um dia poesia 


Fui ao estaleiro do velho seo helio, fui lá para olhar o mar calmo, que não sofre com a rudeza das rochas, pois, percorre o trecho elameado do mangue,  Para alguns o mangue é fétido azedume, para nós outros é ninho de passarinho, de peixinhos e toda sorte de menininhos enlameados que nascem do ventre da mãe velha, mãe nanã boroque, para depois serem entregues a Iara a grande mãe iemanja. Os que são como nós, quando voltam do mar, voltam sem pernas de andar na terra, e carecem dum trago, seja do suco seco da uva, seja do suco amargo do lupulo, se não houver; que seja da cana mesmo. Ah sim! Eu fui lá ver o mar e ver o véio que fica na terra e que nunca ao mar vai, num vai; porque ele não mais navega, conserta os madeiros, calafetando com zelo as brechas que a força do sal marinho faz, vendo-o vi também a poesia e vos entrego com zelo e cortesia.

Que seja de proveito, pois o véio marujo seco... tem poucos dias, a febre  lhe corroe os pulmões e logo ele irá virar encantado

A imagem é de cá de pertinho de casa, fiz no inverno entre as brumas.