MEDITAÇÃO DE NATHANAEL

Perdoai-me, Senhor, se na luz que sobe

a Vós na minha prece

há um vulto de mulher

que a perturba e que a ensombrece.

Perdoai-me, Senhor, se dentro em mim

um outro amor que não o Vosso queima.

Mas a minha alma ainda a Vós submissa,

ainda anseia e teima

lembrar à minha carne os braços de Thaís!

Perdoai-me a dúvida cruenta

de que seja este pecado

um bem que me torna mais feliz.

Deixai-me sonhar as noites e antevê-las,

sob a cúmplice vigília das estrelas,

com a presença de seu corpo

a transformar em seda

o sarjel que cobre a pobreza de meu leito,

ou arrancai-me, Senhor, o espinho desse amor

que sangra no meu peito!

Condenai-me, Senhor, ao mais cruel suplício,

ante o qual seja doce a dor de meu cilício;

mais uma vez só, Senhor - só uma vez!

dai-me que goze a sublime embriaguez

de provar dos beijos de Thaís...

Ainda que este instante me condene

a viver na eternidade,

morrendo, a cada instante, de saudade

pelo instante em que eu fosse tão feliz!

Uma vez só, Senhor!

para que lembrança me ficasse

do colo de Thaís,

onde dormisse a minha face...

Uma vez só, de infinita loucura

misturada de paixão e de ternura,

para que se acabe, de vez, este tormento

e depois logre de Vós perdão e esquecimento...

Envolvei-me em Vosso manto de doçura!

Fazei serena esta noite escura,

para que eu mereça o Vosso indulto

e repouse numa tumba

onde este amor seja sepulto

e eu possa encontrar paz em algum lugar!

Fazei com que o deserto silencie

e da terra, do céu, alguém me envie

o suave consolo de poder chorar...

Waldy Würdig
Enviado por Waldy Würdig em 16/02/2014
Código do texto: T4693475
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