Ser indomável
Sou qual cavalo selvagem: lépido, livre, indomável,
que jamais aceita freios,
Que não permite os arreios ou sela sobre a pelagem.
Sou mesmo esse ser rebelde contra antolhos
Que me imponham sobre os olhos
Direcionando-me o andar, retendo meu cavalgar...
Sou esse ser sempre arisco que não teme correr risco
Quando o preço é a liberdade...
Um ser que faz da verdade e da luta o desafio,
Que se faz sempre arredio ao menor som de chibata
Pois que tal som nunca acata por mais que lhe custe a vida
Já que não mede a ferida
Causada na retomada da busca pela saída
Contra a rédea que o revolta,
Contra o estribo entre seus dentes
Contra todas as correntes
Que lhe impeçam de ser livre e correr pela campina
Sentindo o vento na crina.
Mas esse ser indomável sabe ser doce e suave
Se tratado com açucar...
Sabe ser o mais amável, mais terno do que uma ave
Quando lhe coçam a nuca.
Ele se faz meigo e brando se não for subjugado...
E mesmo sem ser domado se deixa ser amansado
Ao perceber-se acolhido!
Ah, esse ser destemido se aconchega com um afago...
Se aquieta como a imagem que se faz calma, serena,
Na superfície de um lago...
Sabe ser tal qual um servo por toda a sua existência
Se lhe passarem a certeza de respeito à natureza
De se dar sem ser servil...
E que, se houver dependência,
Que seja um acordo gentil, opcional, desejado,
Nunca subserviência...
Pois que deve ser tratado com tal zelo e consciência
Como um presente ofertado a quem não só conquistou
Como se fez conquistado.
Mas, se sentir-se oprimido sob o peso do selame
Se sentir que, de parceiro, passou a ser propriedade,
Por mais que o peito reclame, rechaça a ponta da espora:
Já ficar não tem sentido!... e bravio faz-se inteiro
Enquanto não se faz tarde! Corcoveia, rompe o reio,
Transpõe a última cerca e - prá sempre - vai-se embora!
Obras publicadas: www.lojasingular.com.br