Beijos de nossas almas...

Ora, eu, que passo a noite em claro,

No escuro e sozinho,

Como posso dormir, se a insônia

Bate forte e não adia?

Na cama, de todo mundo arredio,

Com o frio do vento que vem do mar,

É que hei de estar.

E esperarei ansioso o calor do sol,

Sem dormir, nem nada,

Só para sentir os raios-laranja,

Que no céu e nas nuvens irradiam.

E eu, sem dormir, verei, com olhos cansados,

O nascer do sol, que lá no fundo principia,

Com labaredas que queimam as nuvens

E uma alabarda que perfura o céu claro

Em tom azul-cortês.

E, ora, eu, que sempre perco o sono

Quando o fogo da poesia me consome.

Como posso eu dormir, com chamas de

Dúvida, esperança, arrependimento

E Amor queimando o verde-sono

De minha alma?

Esperarei ansioso o calor do sol,

Para apagar chamas de dúvida

E arrependimento, e fortalecer

O fogo da esperança e do amor

E da perseverança.

E observarei a mim mesmo,

No espelho da alma, o reflexo

Do fogo do sol acariciando as nuvens

Em meus olhos, cujo brilho pouco

Se apresenta e pouco emerge.

Ora, eu, que não durmo, coberto

Por uma noite fria, sem mais atrativos,

Sem companhia senão da lua,

Com pensamentos distantes,

Que atravessam casas e bairros

A procura do rosto desejado,

Que, parado, olha para os carros

Que passam em sua janela.

Sonho o dia em que subirei

Àquela janela, agarrarei minha

Fada nos braços, e para o campo

Voarei, entre beijos e olhares.

Seus cabelos vermelhos emprestariam

Cor às rosas do campo.

E [nós] estendidos na terra; os seus cabelos

Beijariam meus olhos, e sua boca

Minha língua; seus lábios morderiam

Minha boca e minhas mãos abraçariam sua alma.

E meus olhos fitariam seu olhar lindo, e, então,

Ela saberia que tenho amor e paixão.

Que nunca cessarão.

Ora, eu, que perco a noite sonhando,

Em claro ou dormindo, como posso

Descansar minha mente?

Uma mente que constantemente

Reproduz idéias e pensamentos

Sobre minha fada, sempre

Espero ansioso o dia que me aceitará

Como amante, com amor incessante.

Sonho eu o dia em que poderei

Olhá-la os olhos e beijá-la a boca;

Sonho teu rosto, tua alma, teu corpo e tua essência.

Sonho minhas mãos e as tuas,

Minha alma e a tua, numa ciranda

Perfeita de irmandade.

Sonho o dia eu em que poderei beijá-la

E, assim, selar o desejo de minha alma,

E para toda eternidade beijá-la.

Ora, eu que perco toda a noite fitando

Tua pintura, num desenho perfeito,

De traços impecáveis, descrevendo um sorriso

Rodeado de rios vermelhos, com fartos dentes.

Sonho acordado ou dormindo; vejo tua face

Pintada na minha memória, teus cabelos

Acariciando, com um perfume vermelho,

O meu olfato, e estonteando minha mente.

Sonho o dia em que poderei ter minhas mãos

Em tua face e meus olhos em tua alma.

Sonho o dia em que poderei ter meus dedos

Em teus cabelos, e meus lábios em tua boca.

Intenciono o dia em que poderei despir-te o espírito

E tocar tua alma e sentir tua luz.

Sonho eu, deitado, o dia que poderei te ter

Mesmo que por uma só noite, para que minha insônia

Seja, assim, justificada com tua presença.

Sonho eu o dia em que poderei voar com tua liberdade

E beber dela, e viver assim, eternamente, em beijos de nossas almas...