Matizes de mim

Ando em frangalhos, francamente

Pulando de galho em galho

Estou em pedaços, receba

Meus sinceros retalhos

Passando pelos percalços

Perco teus passos, perceba

Continuo descalço, pisando

Em ovos pelo asfalto de ninguém

Deslizando nos fracassos

Vejo que não sou um qualquer, fraco

Sigo aplicando, pacientemente

Meu dia a dia, nosso passo a passo

Porquê não desisto, desfaço?

Nossos laços, abraços, descalços

E fico preso a sua teia, imóvel

A comida faço descaso, a fome um abraço

E continuo na armadilha

Pouca roupa, sangue nas veias

Braços fortes, armas minhas

Corro de você, cachorro sem matilha

E sinto-me liberto, frio, solitário

Onde está você, e as amarras?

Porquê não voltas, estou aberto

Ao Deus dará, ao que vier, a espera de um arrematar

Enquanto isso pinto aquarelas

Quadros negros de minh'alma

Confesso a pinceis e telas

Sombras de um verão que quis nevar

Gabriel Amorim 07/02/2014