LÍRICO
No meu poema lírico
a noite vestia-me de solidão
e o amor ecoava na voz do vento
com imensas bocas de sombra
envolvendo numa linguagem de silêncio
o amado corpo do meu bem-querer
O mar era uma canção molhada
entoada triste em seus ouvidos
verde-azulada sonolência em seus olhos
desatinada força do destino
atuando em nossas vidas
Uma rosa demente de sol
florescia em meio ao jardim de sonhos
e repousava em meus cabelos
inocente, pura, indescente
no meu poema lírico
Vi o pássaro mensageiro de tempestades
anunciador de eclipses da lua
incendiário de primaveras
e cantei sua morte prematura
num epitáfio de vôos e distâncias
Janeiro chegava bêbado de luz
nas crinas de um soneto
que rimava tarde com arde
beijos com desejos
no meu poema lírico
A rosa estava morta na mesa
fria, intacta, alheia
ao olhar que a consumia
à mão que lhe feria a carne
à boca que a chamava rosa
Rosa: ilha, incêndio, canção
broto de esperança, sorriso de criança
encanto sublime que penetra a alma
no meu poema lírico...