LÍRICO

No meu poema lírico

a noite vestia-me de solidão

e o amor ecoava na voz do vento

com imensas bocas de sombra

envolvendo numa linguagem de silêncio

o amado corpo do meu bem-querer

O mar era uma canção molhada

entoada triste em seus ouvidos

verde-azulada sonolência em seus olhos

desatinada força do destino

atuando em nossas vidas

Uma rosa demente de sol

florescia em meio ao jardim de sonhos

e repousava em meus cabelos

inocente, pura, indescente

no meu poema lírico

Vi o pássaro mensageiro de tempestades

anunciador de eclipses da lua

incendiário de primaveras

e cantei sua morte prematura

num epitáfio de vôos e distâncias

Janeiro chegava bêbado de luz

nas crinas de um soneto

que rimava tarde com arde

beijos com desejos

no meu poema lírico

A rosa estava morta na mesa

fria, intacta, alheia

ao olhar que a consumia

à mão que lhe feria a carne

à boca que a chamava rosa

Rosa: ilha, incêndio, canção

broto de esperança, sorriso de criança

encanto sublime que penetra a alma

no meu poema lírico...

Francis Faria
Enviado por Francis Faria em 29/04/2007
Reeditado em 12/02/2009
Código do texto: T468246