NUMA NOITE DE BAILE
No salão de baile
alguém apresentou-nos
um ao outro,
com palavras e gestos informais:
"Queremos ver vocês dois dançarem,
de preferência um tango, tá?"
Como se fôssemos dois bailarinos
profissionais...
Teu sorriso me animou a confessar-te:
"Não sei dançar tango nem fazer figura..."
"Não importa - tu disseste
- Dancemos, simplesmente."
Aos acordes de "Mano a Mano",
meu braço enlaçou a tua cintura
e deixamos que o tango nos levasse,
em passos lentos, ao ritmo e ao compasso
da dolente música platina.
Enquanto cada um de nós falava,
eu a contar-te meus sonhos de rapaz
e tu a me contares teus sonhos de menina.
Só depois de muito tempo
demo-nos conta do tempo já passado.
E tu me disseste, um tanto constrangida:
"Você há de querer dançar com outra moça..."
E eu me lembrei e disse:
"E você deve ter seu namorado..."
E então nos separamos, polidamente,
sem nenhum de nós saber por quê.
Por um instante ficou entre nós
a ilusão doce e vã
de uma saudade estranha e serena,
como se cada um de nós tivesse pena
de um não nascido amor sem amanhã...
Hoje, se nos vermos outra vez,
não saberei que foste aquela moça
nem saberás que fui o tal rapaz.
Eu já não lembro mais teu nome,
nem tu te lembrarás do meu...
Já faz muito tempo!... Tanto!
nem tu, nem eu...