Eu aconchegado

Eu aconchegado

Gosto que me enrosco nos novelos da vida

Fico perdido entre pontos e cruzes... e espadas

Perco o buraco da agulha, afunila, tento de novo

Tento juntar linhas e matizes, formar arco-íris

Impressionante minha paciência

Cruzar linhas, trocar pontos nada é ciência

Sem querer furo meu dedo, sai sangue

Tinjo algodão, limo, sofro, continuo a costurar

O trabalho é árduo, o sonho é grande, o frio vai chegar

Não adianta lamentar sob a agulha

Não adianta errar os buracos

Minha experiência têxtil continua

Artesão tolo de dedos torturados

O fracasso é não conseguir dar um laço

É fazer linha de aço, viajar só pelo espaço

Faço o que me apraz, choram os outros tanto faz

E entre bordados tento deixar meu retalho

Costureiro errante, amor em pedaços

Seguirei dando pontos em meu coração

Órgão despedaçado, descosturado

Gabriel Amorim 31-01-2014

Gabriel Melo Amorim
Enviado por Gabriel Melo Amorim em 31/01/2014
Código do texto: T4673090
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