TUDO ERA UMA VEZ

No início era o caos,

o caos e o poeta. Tudo era perfeito uma vez.

Mas o poeta embriagado

de não fazer contas do que sentia

pôs-se a sonhar com ninfas

banhando-se nas ondas azuis

do mar azul que ainda não existia.

Sonhou com desmedida alegria,

sonhou estrelas marinhas.

Pôs-se a sonhar água viva,

amaria tanto e tudo se faria.

Perguntou ao mar, perguntou à lua:

- onde anda minha amada,

estará perdida em poesia?

Então o poeta embrutecido de não saber amar

ordenou versos

e ergueu estruturas onde antes tudo era uma vez.

Onde não havia par criou rima,

inventou métrica sem margens para sua alegria

esqueceu-se das ondas e do mar

esqueceu-se das ninfas

e onde antes tudo era perfeito agora nada mais cabia.

Dos sonhos esqueceu-se

e foi viver de criar o mundo que não existia.

*

*

Baltazar

Baltazar Gonçalves
Enviado por Baltazar Gonçalves em 31/01/2014
Reeditado em 26/07/2017
Código do texto: T4672158
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